segunda-feira, 28 de março de 2016

Mais uma Páscoa em Tomar. A sexta geração na casa dos meus bisavós extasiou-se com os mesmos brinquedos por nós usados, como se houvesse tesouros em todas as casas antigas.
O mesmo bater das horas, das meias horas, no relógio da sala que tantas vezes embalou o sono dos que já partiram, continua, inexoravelmente, o mesmo.
As mesmas colchas nas janelas, o mesmo barulho familiar dos passos e das corridas nos antigos corredores de madeira que estremecem à nossa passagem.
O mesmo som de muita gente no mesmo espaço, as conversa, brincadeiras e gargalhadas a animar a casa, sempre tão vazia todo o ano mas à qual todos gostamos de regressar como se ali ainda permanecessem os que viveram e foram felizes.
As encostas do castelo a começarem a encher-se do rosa das olaias em flor, as pequenas folhas tenras das figueiras a despontarem como borboletas na ponta dos ramos. A Primavera a chegar, imponente, apesar do cinzento dos dias da semana santa.
São as raízes do sangue dos nossos antepassados que nos prendem à terra onde viveram e nos chamam a continuar a sua vida que em nós perdura.
Os mesmos móveis com as memórias dos que ali guardaram cartas, amores, lenços com lágrimas.
A porta abre-se e lembro-me dos rostos satisfeitos dos meus pais a ver chegar cada filho, cada neto, cada amor, cada ramo da sua história de vida.
E, mais uma vez, a grande vigília da Páscoa, a Noite em que volta a Luz, a Noite em que a eternidade nos é, de novo, garantida. O Senhor volta para nós, como voltou para os que nos antecederam e nos passaram o dom da fé.
São as casas com história em que muito permanece inalterado mas em que nada voltará a ser igual.

                                                                 Luísa, 28/3/2016

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