terça-feira, 24 de junho de 2014

PAI 2





Alivio o negro nas vestes que uso
mas intensifica-se o luto da ausência
"morreste-me" pai, mas a tua essência
prolonga-se para além do tempo e do espaço.
Faz-me falta em cada dia o teu abraço,
o teu olhar sério e profundo
que em mim via além da aparência.
Sabias de cor quase todo o meu mundo.
Continuas a ser a referência
dos passos que dou em cada dia,
das palavras que profiro ou que contenho,
memórias dos tempos de alegria...
O mundo reduziu-se ao teu tamanho.
Fico toda feita um mar de saudade
com ondas de afeto e calmaria
ou vagas de lágrimas que retenho
ao recordar a doce mocidade.
Relembro em cada dia a hora em que partiste,
o teu corpo ainda morno em nossos braços,
a paz do teu rosto, o ambiente triste
e o sol cálido que inundava o espaço.
E depois o adeus, o até sempre,
a sensação da tua alma inda presente,
o abraço do Pai eternamente,
o fio que nos liga e não desfaço.

                                Luísa, 24/6/2014





Aromas vagos
na neblina matinal...
Na maresia estival
há cores de espetros sagrados,
arco-íris marejados
de muitas gotas de sal.
Manhãs claras como lagos
e silêncio sepulcral
cortado apenas por asas
das aves brancas que planam
sobre os telhados das casas.
Estruturas sólidas que emanam
calor humano, outra luz
que, por certeza ou engano,
no triste fado da vida
correndo ano após ano
a outro fim nos conduz.
Todos aqueles que eu amo
são casas ou já são asas
gente viva ou tábuas rasas
pairando p'ralém do tempo
no meu triste coração
que às vezes bate a destempo.

                 Luísa  17/6/2014

sábado, 7 de junho de 2014

PAI

                                                                 



PAI
                                                              



Partiste como uma ave
que abre as asas e voa
e o mundo ficou triste
e dentro de nós existe
uma ferida que magoa.

Meio de Maio, Maio a meio
quando as asas tu abriste
e a chuva sobreveio
no meio de um sol em riste
Meio de Maio, Maio a meio.

De olhos fechados, em paz,
a vida foi-se apagando
e de mãos dadas ficámos
à tua volta chorando,
os que deixaste p'ra trás...

Todos os que mais te amámos
numa pinha de amargura,
mãos unidas de ternura
órfãos que nos encontrámos...

Soltaste amarras, partiste
o mundo ficou mais triste

e era Maio, era Maio!


                   Luísa 7/6/2014